Défice de Atenção e Hiperatividade - DDAH

Défice de Atenção e Hiperatividade - DDAH

Antes de mais, este artigo surge no sentido de alertar para a facilidade com que pais e professores diagnostiquem indevidamente esta perturbação, e para a consequente importância de procurarem profissionais especializados que possam ajudar a perceber o que se passa realmente.

A Desordem por Défice de Atenção com Hiperatividade (DDAH*) é uma condição que se torna aparente nas crianças em idade pré-escolar e ensino primário. É difícil para estas crianças controlarem o seu comportamento e/ou prestar atenção.

A DDAH foi inicialmente referenciada pelo Dr. Heinrich Hoffman, em 1845. Hoffman escreveu livros de medicina e psicologia, e era também um poeta que se interessava pela escrita para crianças, quando não encontrava livros adequados para ler ao seu filho de três anos. O resultado foi um livro de poemas, com ilustrações, sobre crianças e as suas características. The Story of Fridgety Philip era a correta descrição de um menino com Desordem de Défice de Atenção e Hiperativo.

No entanto, só em 1902, Sir George F. Still publicou uma série de palestras para a Royal Academy of Physicians na Inglaterra, onde descreveu um grupo de crianças impulsivas com problemas de comportamento significantes, causados por uma disfunção genética, ou seja, crianças que seriam hoje facilmente reconhecidas como tendo DDAH. Desde então, já foram publicados alguns milhares de trabalhos científicos sobre esta desordem, dando informação sobre a sua natureza, percurso, causas e tratamento.

Uma criança com DDAH enfrenta uma difícil mas ultrapassável tarefa. Para conseguir atingir todo o seu potencial, estas crianças devem receber ajuda, aconselhamento e compreensão de todos os que as rodeiam, pais, psicólogos, médicos e outros do sistema educativo.

O que é a DDAH

A DDAH é caracterizada pela Associação Americana de Psiquiatria (APA) como um padrão persistente de falta de atenção e/ou impulsividade/hiperatividade, com uma intensidade mais grave e frequente que o observado habitualmente em sujeitos com semelhantes níveis de desenvolvimento.

Na prática, uma criança com DDAH demonstra no dia a dia, padrões de comportamento acentuados, inadequados ou excessivos de atividade. São normalmente, crianças que têm muita dificuldade em permanecer quietas, têm dificuldades em relacionar-se com os colegas (são intrusivos), não prestam atenção e são precipitados em dar as respostas.

O desenvolvimento de uma criança com DDAH é inadequado, em relação à idade mental, atenção, impulsividade e atividade motora.

De acordo com a APA, existem três variantes de DDAH, dependendo dos sintomas de falta de atenção e da hiperatividade e impulsividade:

  • DDAH do Tipo Predominantemente Desatento

  • DDAH do Tipo Predominantemente Hiperativo-Impulsivo

  • DDAH do Tipo Misto

Este último é o mais frequente e combina a falta de atenção com a hiperatividade.

Sintomas do DDAH

A APA identificou no seu Manual de Diagnóstico Estatístico de Desordens Mentais, publicado em 1994, alguns sintomas característicos da DDAH que podem ajudar no diagnóstico desta perturbação:

> Falta de Atenção:

1. Não prestar atenção suficiente a pormenores ou cometer erros por descuido nas tarefas escolares ou atividades lúdicas.

2. Perder objetos necessários a tarefas ou atividades que terá de realizar.

3. Parecer não ouvir quando se lhe dirigem diretamente.

4. Não seguir as instruções e não terminar os trabalhos escolares ou outras tarefas.

5. Distrair-se facilmente com estímulos irrelevantes.

6. Evitar as tarefas que requerem maior esforço mental.

7. Ter dificuldade em manter a atenção.

8. Ter dificuldade de organização.

9. Esquecer-se com frequência de atividades cotidianas ou de algumas rotinas.

> Hiperatividade / Impulsividade

A impulsividade manifesta-se a nível emocional e cognitivo. A falta de controlo emocional leva a criança a agir sem refletir e sem avaliar as consequências dos seus atos, numa busca imediata de satisfação do desejo sentido.

1. Movimentar excessivamente as mãos e os pés e mover-se quando está sentado.

2. Levantar-se em situações em que deveria estar sentado.

3. Agir como se estivesse ligado a um motor.

4. Ter dificuldade para se dedicar tranquilamente a um jogo.

5. Correr ou saltar excessivamente em situações inadequadas.

6. Falar em excesso.

7. Precipitar as respostas antes de terem terminado as perguntas.

8. Ter dificuldade em esperar pela sua vez.

9. Interromper ou interferir nas atividades dos outros.

Critérios de Diagnóstico

Para a APA, o diagnóstico da DDAH deve obedecer a critérios indicativos:

- Quantidade. Devem estar presentes pelo menos seis dos sintomas de falta de atenção ou de hiperatividade-impulsividade.

- Duração. Tiverem persistido por um período mínimo de seis meses com uma intensidade que é simultaneamente desadaptativa e inconsistente com o nível de desenvolvimento do indivíduo.

- Início. Terem início antes dos sete anos de idade

- Contexto. Acontecerem em dois ambientes ou contextos diferentes (escola e casa).

- Provas. Existirem provas claras de um défice social e acadêmico significativo.

- Exclusão. Os sintomas não se devem a outra perturbação mental.

Os números

Estima-se que 3 a 5% das crianças em idade escolar sofrem de DDAH (dados da APA em 1994) e que outros 5% a 10% apresentem sintomas em menor quantidade mas que mesmo assim, perturbam a aprendizagem e o sucesso acadêmico.

Esta perturbação afeta mais os meninos que as meninas: quase 90% dos casos diagnosticados são de rapazes.

Os sintomas, em muitos casos, são atenuados com a idade, estimando-se que os casos em que persistem os sinais na idade adulta são entre 30 a 50%.

Tratamento

As crianças com falta de atenção e com comportamentos hiperativos-impulsivos são um grupo heterogêneo e só o conhecimento particular de cada caso permitirá determinar o tratamento mais adequado, variando as opções entre a prescrição de medicamentos, as técnicas de modificação do comportamento, as técnicas cognitivas ou uma aproximação multidisciplinar.

Tendo em conta que a escola é o local onde se manifestam mais os sintomas da DDAH, a adequação dos programas escolares deve ser uma vertente prioritária e fundamental, nas opções de tratamento.

Terapia e modificação de comportamento

A indicação geral é de que, se devem seguir três linhas de intervenção:

1) treino dos pais,

2) intervenção focada na escola,

3) tratamento centrado na criança.

De acordo com alguns autores, a estratégia de intervenção deve seguir, de uma forma geral, os passos das técnicas de modificação do comportamento:

  1. definição operacional do comportamento indesejado;

  2. estabelecimento da linha de base;

  3. definição dos factores que motivam o comportamento e o fazem persistir;

  4. aplicação do programa de alteração do comportamento com recurso ao reforço;

  5. avaliação do processo.

De forma simples, a terapia comportamental visa reduzir a frequência de comportamentos inadequados e aumentar a frequência de comportamentos desejáveis. A melhor maneira de influenciar um determinado comportamento é prestar-lhe atenção, e a melhor maneira de aumentar a frequência de um comportamento desejado é apanhar a criança a portar-se bem.

A criança com esta perturbação adapta-se melhor em ambientes familiares bem estruturados e baseados em rotinas e regras claras, onde as expectativas dos adultos são consistentes e as consequências são estabelecidas com clareza e aplicadas de imediato.